Tomada de decisão na Odontologia: Nem Sempre Será Fácil!

 

Você alguma vez se viu de frente com um paciente que lhe pediu um tratamento que talvez não fosse a melhor opção, fora do seu âmbito ou zona de conforto, mas sentiu pressões externas para realizá-lo?

Trabalhar como dentista implica tomar decisões difíceis - desde prescrever tratamentos ou de respeitar os seus limites, sabendo quando encaminhar ou recusar realizar um determinado tratamento.

Há alguns anos, tive um paciente que se levantou da cadeira e me disse que aquela tinha sido a sua pior consulta dentária da vida. O porquê desta reação? Recusei-me a fazer uma coroa quando o dente anterior adjacente tinha sido realizado apenas um mês antes, em um consultório diferente. Convidei o paciente a regressar ao meu consultório para os seus cuidados dentários gerais, mas expliquei-lhe que achava melhor regressar ao dentista anterior para realizar esta coroa em particular, porque não oferecemos os mesmos tipos de coroa.

É claro que situações como esta podem levar a um sentimento de desânimo, mas quando os pacientes não parecem aceitar a sua recomendação, pode ser necessário considerar o motivo. Por vezes, pode ser pela falta de compreensão ou, como nesta situação, a preocupação estava mais relacionada com o custo, que é um assunto muito delicado

 

A tomada de decisões clínicas nem sempre é fácil.

Não é incomum ter um paciente que procura uma segunda opinião e, muitas vezes, o tratamento sugerido por um profissional pode ser diferente da lista de tratamentos oferecida por outro, mas, como todos sabemos, a Odontologia pode ser subjetiva em alguns aspectos, incluindo as preferências do paciente. Quando lhe é apresentado o mesmo paciente que o seu colega, as suas opções de plano de tratamento podem ser diferentes, mas isso não quer dizer que uma esteja certa em comparação com a outra. O que é importante quando se prescrevem tratamentos é que se possa fundamentar as recomendações. As decisões clínicas devem ser racionalizadas tendo em conta a base de evidências científicas, as melhores práticas clínicas possíveis, bem como a sua experiência clínica e capacidades, juntamente com os valores e expectativas do paciente.

Algumas dicas para a tomada de decisões:

Seja ético: estudos efetuados nos Estados Unidos demonstraram que 20-25% dos doentes recebem tratamentos que são desnecessários ou potencialmente prejudiciais.¹ Praticar uma boa comunicação e cuidados centrados no paciente que respeitem as preferências e valores dos pacientes no que diz respeito à sua saúde oral. A compreensão das preferências dos pacientes pode ajudar a melhorar os resultados clínicos.

Trabalhar em consonância com as diretrizes clínicas: Com o objetivo de melhorar a qualidade dos cuidados¹, mantenha registos detalhados para apoiar as suas decisões de tratamento, particularmente quando a sua escolha de tratamento pode diferir das melhores práticas tradicionalmente aceitas ou das recomendações incluídas nas directrizes clínicas.

(1) Clark R, Tonmukayakyl U, Mangan Y, et al. Measuring adherence to evidence-based clinical practice guidelines. J Evid Based Dent Pract. 2017:17(4);301-309.

Sobre o autor:

A Dra. Mikaela Chinotti exerce como dentista geral há 7 anos desde que se formou na James Cook University (JCU). Mais tarde, Mikaela regressou à universidade, concluindo um mestrado em Saúde Pública com especialização em promoção da saúde. Atualmente, exerce a tempo parcial numa clínica dentária privada na Austrália, e trabalha na Associação Dentária Australiana (ADA) como Promotora de Saúde Oral. Mikaela é um membro inaugural da Colgate's Advocates for Oral Health: Editorial Community da Colgate; tornou-se membro devido ao seu forte interesse na orientação, educação e promoção de saúde oral.